São fantasmas que vagam por entre minhas paredes, eu renovada,
mas antiga. Muito já se passou em mim, mas hoje vivem os espectros que são visíveis
pelas frestas das portas.
Imprudências, assédios, tristezas e angústias. Alegrias
também aconteceram aqui, mas depois de um tempo os tijolos pesam tanto que eu
sedimento. São demônios incrustados entre as camadas de tinta que me renovaram.
Existem vazamentos e lutas homéricas contra as pragas. Sou
um edifício aberto, com uma luz agradável e uma brisa leve, mas os anos me
consomem e embora permaneça estética minha origem se esconde entre constantes
reformas.
Ouço fantasmas, seus passos e seus gemidos. Seres que
transam estupidamente entre minhas paredes e ignoram minha sólida existência.
Beijos trocados com outro por aqueles que usavam meus espelhos para aprender o
toque dos lábios.
Às vezes avarandar, outras vezes demolir.
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