Sento agora no alto de um edifício de três andares. Atrás de
mim a lua se faz crescente. Encanta-me o
anoitecer dessa cidade. O sol parece
gostar muito daqui durante o verão, ele só cai na margem do mundo lá pelas oito
e meia da noite. Noite que aqui ainda é dia, engraçado, não?
A cidade aqui é quieta, ainda mais se comparada à selva de
pedra. Existe barulho, claro, mas a ausência daquele som distante, som de gente
correndo, essa ausência faz a cabeça ficar mais leve.
Venta agora e o escuro vai tomando conta. Tem um cheiro de
páprica doce bem forte, deve vir do bar que fica no primeiro andar desse
edifício. Aqui do alto é possível ver as tevês ligadas no jornal nacional. Uma
senhora se empenha em olhar pela janela e no outro prédio um homem permanece
parado em frente a uma planta. O que ele faz?
Escureceu mais e parece que o vento gostou disso, pois ele
passa mais forte por entre meus braços. Risadas de bar podem ser ouvidas. Tem
uma árvore que parece dançar com o vento e de repente uma andorinha passa por
mim num rasante. Espanto-me e sorrio. A minha direita tem um casal na varanda,
não consigo ver mais do que as silhuetas, mas acredito ser um casal mais velho.
Conversam.
O homem ainda está encarando a planta. E no meio de tudo
isso, entre outro rasante e as estrelas que brotam do céu, eu estou feliz.