Cabe o silêncio a certas coisas. É como tirar o pó dos
móveis imóveis na sala de estar. Calado e atento eliminando cada milímetro de
poeira que se esconde por de baixo das estatuetas.
Esse ritual lento de limpar as coisas é um reflexo da nossa necessidade
de vida. É necessário levantarmos os órgãos para tirar o pó que se guarda por
de baixo deles. O mundo me parece surpreso com detalhes que não se escondem em
segredos, mas sim em atos corriqueiros que passam despercebidos.
A vida tem seus momentos confusos e conturbados, existem
dores imaginárias que se mostram como flechas vermelhas que atravessam o
estômago da gente. Existe algo que ainda dói, embora ainda não saiba bem o que
ou onde essa poeira de dor se esconde.
Se limpa até mesmo embaixo das unhas. Um dia esse pó há de
sair, nem que seja após cada molécula se tornar novamente pó.
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